terça-feira, 12 de setembro de 2017

De Novo

Enquanto penteava
seus reticentes cabelos
Perdeu a vontade entre um gesto
e o que seguinte não se fez.

Sobre a mesa encontravam-se
Embaralhadas palavras
Com as quais firme tecia
A si mesma de novo
Novamente e mais uma vez.

Deixou-se assim pendente.
Seu ser no espaldar da cadeira.
Entre um segundo e outro
Um universo a multiplicar.

Nada que fosse conhecido
sob o sol
de um já lívido Janeiro.

Vaidade das vaidades:
Nada menos que tudo mais
é novidade!


O sabe-quase-tudo

Era um daqueles
sujeitos lamentáveis

Uma infelicidade
a nos dar dó

Sabia de tudo
e um pouco mais
do mundo

Sequer sabia
como ignorar.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Lembrança Primeira

Em alguma parte
De em parte alguma
Pintam-se as cores
de antigamente
Caminham-se nas águas
Onde a amargura
Lava seu rosto
Soergue seus braços
Rende-se, rubra,
Redentoramente.

Em alguma parte
De em parte alguma
Sem que de algo
cada um sempre se aparte
Lá é sem que haja
partição nenhuma.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Sala de Espera

Espero
Por perto

Muito embora
haja
demora

Aos poucos
o agora

Há de se fabricar

De mansinho
Ou, às vezes,
Devasso

No silêncio
Mais claro
No mais turvo
Barulho

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Epílogo

De hoje em diante
Não mais terei teu sorriso
A iluminar meus olhos
Daqui para frente
Teus olhos não me brilharão
A reinaugurar o meu sorriso
Dest'arte
nenhum verso a mais será
escrito
A poesia deste mundo está
morta
E enterrada em meu peito

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Lendo o jornal

É sentir arder na pele o desejo de voltar?
um retorno decidido ao instante anterior?
Antecipar o cansaço de tudo que virá?
Seja lá o que venha, seja lá o que for?

Não suponho fraqueza naquele
que tem ganas de partir
E apenas anseia cerrar seus olhos
Virar estátua de sal.
Espraiar-se sobre as possibilidades
Que não mais irão advir
Deslizar entre os dedos os
amores que nunca se deitarão

É, entre outros, um caminho
Dentre os muitos que em breve
 hão de se findar.
Uma saída dentre outras
Para quem a porta de entrada
Não encontrou.
Preferia que ficasse
Mas aceito o que não
Cabe a mim não aceitar
E espero que entenda
O que o tempo em nós
Não entrelaçou.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

trecho de um monólogo a dois.

- Sinceramente, eu não sei o que dizer...
- E se, por acaso, você...
- Não.
- Como assim? Eu sequer...
- Nunca. Já disse que é não. Nem precisa terminar seu blábláblá.
- Mas isso não faz qualquer sentido.
- E o que faz? O que faz um sentido?
- Olha só...
- Também não precisa se dar ao trabalho de responder, eu não quero saber.
- Para que então perguntar?
- Isso é uma pergunta? Sobre uma pergunta?
- Meudeusdocéu... .
- Tchau. Até mais ver.  Até logo mais. Posso não saber o que dizer,
nem como me explicar. Mas decididamente não vou procurar
 o significado da palavra significado no dicionário.